quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A ILUSÃO DÓI

Na escrita criativa da ESPAMOL vamos buscar ideias e palavras às imagens vivas dos pintores que souberam sabiamente retratar a nobreza dos actos humanos, nomeadamente o AMOR, A ILUSÃO DA FICÇÃO DO AMOR.
O nosso mentor, o professor Paulo propôs-nos escrever uma história com base numa pintura de Renée Magrite ou de Nadir Afonso.
Maria escolheu o primeiro pintor, dois corpos humanos, uma mulher e um homem, com as cabeças enroladas em panos brancos…

A ILUSÃO DÓI

“ Aproxima-te de mim, vem cá, funde o teu desejo com o meu, deixa-te abandonar, perde o teu corpo, a tua alma e as tuas mãos e junta-te a mim. Começa contigo a história e acaba em mim e fica por aqui, não permitas que ela continue, nem que atravesse as pontes e vá ter com os outros, aqueles que não são nem tu nem eu. Vem cá, abraça-me e que o teu corpo seja o meu e o meu entre dentro do teu, coração com coração, pulmão com pulmão, vamos ser um só, um corpo junto ao outro, em completo e total desprezo pelos outros. Aproxima-te e vem cá.
Não te iludas, nem sequer tenhas o mero propósito de te iludires, nem que seja só por uma hora ou por um segundo, não podes fazê-lo, tens aquela realidade que te acorda todos os dias e te vai cortando aos poucos as pernas, os braços (as extremidades) e depois continua até chegar à cabeça. Aí, nesse ponto alto do teu ser, não permitas que te amputem a alma, enfia um pano de modo a tapar os olhos, a boca, os cabelos, os teus sentidos preciosos e só assim podes olhar para o outro, aquele que tu querias que ficasse dentro de ti. Sabes, não é permitido o contacto visual, porque há o medo interior incutido desde que estiveste visceralmente dentro do ventre da tua mãe que te impede de teres alguém dentro de ti e de muitas vezes, digo milhares, seres tu próprio, animalescamente falando, cheirando as coisas menos próprias, beliscando as pernas das deusas vivas que te acompanham ao longo da tua vida.
Será que te preocupas comigo?”

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