segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Morreu aquele que não pôde adiar o amor...


António Ramos Rosa (1924-2013), uma vida dedicada à poesia

Autor de uma das obras poéticas mais extensas e marcantes da poesia portuguesa contemporânea, morreu esta segunda-feira em Lisboa, aos 88 anos. 
O poeta e ensaísta António Ramos Rosa foi um dos nomes cimeiros da literatura portuguesa contemporânea, autor de quase uma centena de títulos, de O Grito Claro (1958), a sua célebre obra de estreia, até Em Torno do Imponderável, um belo livro de poemas breves publicado em 2012.
Prémio Pessoa em 1988, António Ramos Rosa, natural de Faro, recebeu ainda quase todos os mais relevantes prémios literários portugueses e vários prémios internacionais, quer como poeta, quer como tradutor.




Teu corpo principia
Dou-te um nome de água
para que cresças no silêncio.
Invento a alegria
da terra que habito
porque nela moro.
Invento do meu nada

esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)
Descubro esse contrário

que em si mesmo se abre:
ou alegria ou morte.
Silêncio e sol - verdade,
respiração apenas.

Amor, eu sei que vives
num breve país.

Os olhos imagino
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.
Se é milagre existires,
teus pés nas minhas palmas.

ó maravilha, existo
no mundo dos teus olhos.
ó vida perfumada

cantando devagar.
Enleio-me na clara
dança do teu andar.
Por uma água tão pura
vale a pena viver.
Um teu joelho diz-me
a indizível paz.

 
                                                                                                        in, «Estou vivo e escrevo Sol »(1966)



 

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