quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Prémio Nobel da Literatura 2011 - Tomas Tranströmer

Tomas Tranströmer escreve sobre a morte, a história, a memória e é conhecido pelas suas metáforas.
Em Portugal, Tranströmer tem poemas publicados em duas antologias, uma delas chama-se "Vinte e um poetas suecos" (Vega ,1987).
Tomas Tranströmer, 80 anos, psicólogo de formação, sofreu um AVC em 1990. Por isso perdeu as faculdades motoras e não consegue falar.
Desde 1973 que Tomas Tranströmer, que é o poeta sueco mais traduzido no mundo e recebeu o Prémio Literário do Conselho Nórdico em 1990, era candidato ao Nobel. Há 40 anos que um autor sueco não recebia este prémio.
O poeta e tradutor Vasco Graça Moura disse hoje à agência Lusa que a poesia do autor sueco “tem uma grande força lírica e preocupação social” e considerou-o "um Prémio Nobel muito merecido”. “Ele é muito importante e é o maior poeta sueco vivo”, afirmou. Sobre a obra de Tranströmer, o escritor português sublinhou “a grande força de utilização das imagens, com uma faceta um pouco surrealista”.
"Nos poemas de Tranströmer, as imagens poéticas abrem por vezes portas para estados psicológicos e para interpretações metafísicas, havendo uma espécie de 'ideia religiosa' que aflora em alguns versos.
No ano passado a distinção foi atribuída ao escritor peruano Mario Vargas Llosa. O prémio tem um valor pecuniário de dez milhões de coroas suecas (cerca de 1 milhão de euros).
Este é o quarto prémio atribuído pela Academia Sueca este ano depois do Nobel da Medicina (Ralph Steinman, Bruce Beutler e Jules Hoffmann), da Física (Saul Perlmutter, Brian Schmidt e Adam Riess,) e da Química (Daniel Shechtman). Amanhã será atribuído o Prémio Nobel da Paz.
In  Jornal Público, com supressões

PÁSSAROS MATINAIS
Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.
Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.
Não há vazios por aqui.
Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta que como foi caluniado
até na Direcção.
Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:
Não há vazios por aqui.
É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.
Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.
(1966)

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