O
espetáculo a que assistimos no dia vinte e quatro de outubro permitiu-nos conhecer
Afonso Dias, um artista cativante e comunicativo, cheio de entendimento poético.
Começou por se apresentar. Um olhar aberto e perspicaz rodeou
a sala Polivalente da Biblioteca onde nos encontrávamos. Éramos cerca de 40
alunos, expectantes. Em tom de voz pausado, sem pressas, apresentou-nos uma
pessoa habituada a lidar com o público jovem. Foi neste ambiente criado em
poucos segundos que a sua atuação nos levou pelos sons da literatura e da
música – os textos líricos cantados eram embalados pelo dedilhar da sua
guitarra clássica. A voz da guitarra e a voz do artista, agradável conjunto, faziam
pontuações no ar, levando-nos a imaginar as reticências, e as vírgulas, e as exclamações
de sentimento. Estávamos diante de um artista confiante, largando a intervalos pequenas
piadas e sorrisos de simpatia. A sua ligação à plateia foi quase imediata. Logo
após os primeiros cinco minutos, inconscientemente, ficou-se com uma sensação de
familiaridade em relação a Afonso Dias. Cada um de nós deve ter sentido, de
facto, que já havia travado conhecimento com este artista-poeta, em qualquer
lado, em qualquer parte.
Os poemas tornados melodias tinham a
assinatura de duas personalidades completamente distintas: António Aleixo e
Fernando Pessoa. Para assegurar esta distinção (aparente), Afonso Dias despersonalizou-se,
ao jeito da heteronímia pessoana, e ora surgia como Aleixo - de chapéu rústico,
simples e campónio -, ora aparecia como Fernando Pessoa – de óculos sérios e
tristes. Enfim, uma desgarrada improvável… ou provável? Até ao final da
atuação, lentamente, a atuação foi-nos dando a perceber o que poderia, afinal, ser
tão próximo e comum aos dois grandes poetas da literatura portuguesa.
Se valeu a pena? Vale sempre a pena se a atuação não é
pequena. Foi grande! E encheu a nossa alma.
Um agradecimento especial à Professora Mónica Nóbrega e aos alunos do Curso de Aprendizagem -
Rececionista de Hotel.
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