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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Características do pensamento mora/ético

Características do pensamento moral/ético



John Searle: o pensamento moral, também designado como pensamento prático, consiste em encontrar razões que justifiquem que adoptar um determinado comportamento ou uma determinada regra de comportamento é melhor do que adoptar outro(a). Pode aplicar-se na tomada de decisões em situações concretas ou na reflexão sobre princípios de conduta, normas ou estilos de conduta e objectivos de vida (J. SEARLE – Mente, cérebro e ciência, Lx., Ed. 70). Esta noção é analisada e aprofundada por outros autores:
«O pensamento moral não diz respeito à descrição e explicação do que acontece, mas a decisões e à sua justificação. Uma vez que o raciocínio moral é uma das espécies de raciocínio prático, as suas conclusões são desejos, intenções e acções, ou sentimentos e convicções que podem motivar o desejo, a intenção e a acção. Queremos saber como viver e porquê, e queremos que a resposta seja formulada, se possível, em termos gerais.
»Não pode haver uma resposta prévia quanto à questão de saber se estamos ou não a falar de um assunto real quando reflectimos e discutimos sobre moralidade. A resposta tem de vir dos próprios resultados. Só o esforço de raciocinar sobre a moralidade nos pode mostrar se isso é possível – só esse esforço nos pode mostrar se, ao pensar sobre o que fazer e como viver, podemos encontrar métodos, razões e princípios que não sejam puramente subjectivos.» (Thomas NAGEL – A última palavra, Lx. Gradiva, 1999, p. 122 - adaptado).
Thomas Nagel reconhece que o facto de os tópicos morais (problemas, conceitos, valores, princípios, objectivos morais) poderem ser reconhecidos apenas na nossa consciência cria a tendência para cairmos no relativismo ou no subjectivismo. No entanto, as posições relativista ou subjectivista são contraditórias com os objectivos e a natureza do pensamento moral: este procura determinar a forma correcta de agir, ou os princípios que nos permitem decidir que forma de agir é essa, e espera que a resposta encontrada seja boa em qualquer circunstância, para qualquer pessoa (que seja universal). De outro modo, limitar-nos-íamos a agir por impulso. Seremos, como indivíduos, capazes de suportar uma ausência de rumo? Poderá a sociedade sobreviver sem um compromisso entre os seus elementos? Poderemos aceitar um compromisso com um conjunto de normas qualquer?
O esforço para determinar o que é o melhor talvez tenha que passar por sentimentos e emoções – possivelmente, sem eles não compreenderíamos nem sentiríamos na pele que o que é vantajoso ou desvantajoso, útil ou prejudicial, desejável ou indesejável, etc.; as necessidades básicas que é necessário satisfazer para garantir uma vida segura, digna e realizada. Mas como é que passamos de sentimentos e emoções para respostas universais ou comummente aceitáveis sobre a melhor forma de viver ou de agir? O único meio disponível é o pensamento racional, de preferência partilhado pelo maior número possível de pessoas. Temos que discutir para encontrar as necessidades básicas de qualquer pessoa e para descobrir as consequências que são de esperar de um determinado tipo de acções, para a partir daí encontramos orientações que cada um possa seguir no seu próprio interesse e no interesse do bem comum. É neste tom que James Rachels formula aquilo a que chamou de concepção mínima de moralidade, um conjunto de características comuns a qualquer código moral (James RACHELS – Elementos de filosofia moral, Lx., Gradiva, 2003, Cap. 1):
«A moralidade é o esforço para orientar a nossa conduta pela razão – isto é, para fazer aquilo a favor do qual existem melhores razões – dando simultaneamente a mesma importância aos interesses de cada indivíduo que será afectado por aquilo que fazemos. (...) [Um] agente moral consciencioso é alguém preocupado imparcialmente com os interesses de quantos são afectados por aquilo que ele, ou ela, fazem; alguém que cuidadosamente filtra os factos e examina as suas implicações; que aceita princípios de conduta somente depois de os examinar, para ter a certeza de que são sólidos; que está disposto a “dar ouvidos à razão” mesmo quando isso significa ter de rever convicções prévias; alguém que, por fim, está disposto a agir com base nos resultados da sua deliberação.»