Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não
precisa de mim.
Sinto
uma alegria enorme
Ao pensar que a
minha morte não tem importância nenhuma.
Se
soubesse que amanhã morria
E a primavera era
depois de amanhã,
Morreria contente,
porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu
tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja
real e que tudo esteja certo;
E gosto porque
assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer
agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Se quiserem, podem
dançar e cantar à roda dele.
Não tenho
preferências para quando já não puder ter
preferências.
O que for, quando
for, é que será o que é.
Alberto Caeiro
1889-1915
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