Para a história de hoje precisávamos de alguns elementos: um problema, um conflito, uma necessidade,etc. que desencadeasse a acção; uma resposta a esse conflito; uma resolução; duas personagens, sendo que o s seus nomes começariam com a letra B e a letra, respectivamente, e que uma delas seria uma mosca; A acção é desencadeada por um objecto cujo nome começa com a letra L e termina na presença de água...
O que é que se consegue produzir em meia hora?
V.
Certo dia, Bruta estava a voar sobre a árvore para observar o tempo. Nesse dia esperava que estivesse bom tempo porque prometera ao seu amigo Dormente, masi conhecido por Camaleão, que ia tomar o pequno-almoço com ele. Fez a sua cama no meio dos ramos e partiu. Quando chegou, Dormente estava a praticar ioga. O seu amigo, ao ouvir um zumbido, disse:
- Bom dia, minha amiga Bruta! Passaste bem a noite?
- Bom dia, Dormente ...Sim, passei, etu?
- O costume ...Ora faz frio, ora faz calor, este tempo não se decide.
- Pois, também reparei nisso esta manhã.
-Muito bem, vamos entrar para tomar o pequeno-almoço.
Os dois amigos estavam à mesa muito animados e aproveitaram para pôr a conversa em dia, e Dormente disse:
- É Pá, há muito tempo que não dou um passeio por estas bandas, não achas boa ideia ir dar uma volta?
- Hum, agrada-me, então vamos lá!
Lavaram a loiça e arrumaram a cozinha e depois partiram. Estava a ser um passeio muito agradável ...até que Dormente tropeçou numa coisa, pequena e redonda, e depois pegou naquela coisa esquisita com a sua língua e perguntou à amiga:
- Já biste esta coija esquijita?
- Já vi, sim. O que é?
- Não sé!
- Olha, tem aí uma coisa, clica!
Dormente voltou a pousar a coisa esquisita no chão e quando a pousou, a coisa começou a rebolar pelo chão. Bruta, que tinha a curiosidade à flor das asas, foi tentar parar a lanterna pequenina que rebolava pelo chão. Mas de repente deixou de se ver a coisa esquisita, Bruta voa até ao sítio onde deixou de se ver o objecto e dormente já vinha com um palmo de língua de fora. cansado disse:
- vamos voltar para casa, isto é um sítio perigoso.
estavam diante de uma coisa de ferro presa ao chão. A mosca Bruta disse:
- Eu vou entrar, vou querer saber o que era aquilo. Vem se quiseres - disse a mosca ao entrar.
Dormentem, que não queria ficar sozinho, saltou e quando pousou, chamou pela amiga:
- Onde estás, Bruta?
- Estou aqui...
O som perdeu-se naquele túnel escuro e com um cheiro insuportável onde um pequeno rio passava e ia desaguar um bocadinho mais à frente.
E os amigos lá ficaram a admirar aquele rio mal-cheiroso e imundo.
Sam
Duda, adolescente pacata, vivia praticamente entalada entre as quatro paredes do seu quarto, recheado com fotos dos seus ídolos, PC, TV e muita música. Havia livros mas só os da escola e já eram muitos!... Era domingo, eram 22 horas, era quase... quase o início de mais uma semana. De repente, Duda esbugalha os olhos:
- Eia!, Tenho os TPC para fazer!! Grrrrr
-Estes profs, pá! Querem mesmo queimar-me os miolos.
Resmungou, rugiu, rangeu os dentes, ripostou contra tudo e todos... Tiraram-lhe o prazer do momento!
Música em volume menor e lá se lança ao seu dever de estudante. Pega no livro de Port., pág. 43... Ler e interpretar um poema de António Gedeão - "Pedra filosofal". Leu e leu mais uma vez e o sonho deixou de ser o da pedra filosofal e Duda viajava em cada sílaba, em cada palavra, em cada verso...
...O sonho é uma bola colorida entre as mãos de uma criança... Esta bola estava nas mãos de Duda quando inesperadamente surge um ponto negro alado a esconder as sílabas que lhe estavam a preencher a alma e a transportá-la da agonia que era haver TPC. Uma mosca, a Bi, fazia companhia à menina que detestava fazer TPC mas que gostava de música.
- Bi, vai-te embora!
A mosca ora ia, ora vinha e isso perturbou Duda.
- Já sei porque não sais do meu quarto! Gostas das migalhas das bolachas que semeei por aqui...
Duda desconcentrada fecha o livro e levanta-se da secretária, acabando por entornar um copo de água que tinha ali desde a semana passada.
Nunca mais Duda ouviu o zunido da sua companheira de bagunça!
P.
Não há nada como lavar a cara em água fresca para começar o dia. Molha-se uma patinha, depois outra, esfrega-se um olho, depois outro, revirando a cabeça.
Ao longe, a distância segura, Bz observava Donsília... observava algumas centenas de Donsílkias, uma para cada face dos seus olhos compósitos, depois reunia-as numa única imagem... Um raio de sol deslizou lentamente pela mesa enquanto Donsília lavava a loiça e encheu de luz o copo de água em cuja borda estava poisada Bz.
Donsília brunia a loiça. Virava e revirava cada prato, cada garfo, cada chávena e esfregava com ardo cada manchinha que via... ou que imaginava ver.
O cesto das compras descaiu e deixou tombar parte do conteúdo. Uma laranja rolou pelo tampo da mesa e foi tocar no copo. Tocou-o levemente, mas foi o suficiente para assustar Bz, que levantou voo. Onde haveria de poisar? Bz percorreru os infinitos céus da cozinha... e esvoaçou ... e esvoaçou ... e passou rente às orelhas de Donsília.
- Raistapartam! - a linguagem da criada não era tão brunida como a loiça.
Bz decidiu-se finalmente pela asa de uma chávena de porcelana poisada no escorredor.
- Amaldiçoada sejas!
A rodilha húmida voou como um chicote.
A asa de Bz ficou a estremecer em espasmos.
A asa da chávena voou.
Donsílkia apertou os lábios, amaldiçoou outra vez a mosca e continuou a limpar a loiça com o mesmo pano. Quando terminou a loiça, já cansada, parou para acabar de beber o seu copo de água.